Hoje (31) se comemora o Halloween, mais
conhecido no Brasil como o "Dia das Bruxas". As manifestações são mais
comuns nos países anglo-saxônicos, em especial nos Estados Unidos. Mas,
nos anos 70, Campo Grande (MS) também teve sua bruxa, conforme a
imprensa noticiou à época. Nada, porém, para se comemorar dado a
tragédia que representou o episódio na então pacata Cidade Morena .
Ainda hoje, algumas pessoas dizem que não passa de lenda. Outras, ouvem comentários a respeito sem ter convicção de que realmente teria ocorrido.
Mas não se trata de lenda ou ficção.
O caso teve grande repercussão na cidade e ficou conhecido como os crimes da Bruxa da Sapolândia,
uma mulher que foi presa acusada de matar crianças - vítimas de maus
tratos e desnutrição - e que eram enterradas nos fundos de sua casa,
numa área de brejo.
A mulher ganhou essa denominação nas
manchetes dos jornais que associaram seus atos a das bruxas das
histórias infantis - a mulher má que prendia criancinhas - mas com a
realidade cruel: a morte de ao menos dez crianças, noticiou-se.
Por morar num bairro conhecido como
Sapolândia, a associação foi inevitável. Afinal, além do corvo amigo, as
bruxas - conforme os gibis - tinha o sapo como animal apropriado para
poções maléficas.
'Cemitério' no brejo
O jornalista Fausto Brites, do Portal Correio do Estado foi testemunha dessa história, quando adolescente. O ocorrido pode parecer ficção, mas foi uma realidade, afirma.
"O cenário era perfeito para um filme de terror", diz o jornalista que esteve na casa da Bruxa da Sapolândia.
Movido pela curiosidade, ele que morava na Rua Engenheiro Alírio de
Matos, no Bairro Taquarussu, foi com alguns colegas e os irmãos mais
velhos até o local. "A casa era de tábua, sem pintura e ficava às
margens de um trilheiro que levava ao bairro. O terreno fazia fundos com
o brejo e ali era onde criou-se o cemitério das crianças", conta.
Segundo o jornalista, os pequenos
caixões, que ela mesmo fazia, eram de ripas de madeira. Os corpos das
crianças eram enrolados em redes ou colchas velhas. "Cheguei com meus
amigos e irmãos logo depois da prisão da mulher. Havia uns cinco caixões
ainda ao lado dos buracos. Estavam sujos de lama, assim como os
tecidos. Os corpos já tinham sido retirados, mas os tecidos, usados como
mortalhas, foram deixados. Como era brejo, daquelas sepulturas
improvisadas minavam água. As muitas árvores no local criavam aquele
clima de pântano de filme de horror. Fiquei impressionado".
A Bruxa da Sapolândia morava com
um rapaz que também foi preso. "Quando chegamos na casa, havia um homem
que estava tentando fazer uma moto funcionar. Ele depois entregou a
chave para os policiais e foi levado dali na viatura. Umas pessoas que
estavam próximas gritavam que ele era o ‘bruxo’. Não sei se era o marido
dela, ou não".
Um dos jornais na época, publicou a foto
da mulher, já presa, caída numa das celas da delegacia. "A matéria dizia
que ela tinha entrado em transe", afirma o jornalista. Passados os dias
os jornais não deram mais sequência ao caso. "Mas a história da Bruxa da Sapolândia não caiu no esquecimento",diz Fausto Brites.
Segundo ele, ainda hoje recebe telefones
de acadêmicos em jornalismo, principalmente, qurendo saber informações a
respeito do caso. "Embora já naquela época eu sonhasse em ser
jornalista, eu era adolescente e minhas recordações são da visita à casa
da mulher e do que os jornais publicavam na época", explica.
Mas ele é categórico em afirmar que o
caso é verdadeiro. Sobre a mulher, o jornalista explica que existem
algumas versões a respeito, desde que teria morrido no presídio até que,
passados alguns anos na cadeia, mudou-se da cidade para o interior do
Estado. "É como você fechar o livro de histórias de bruxa, quando se é criança, e elas (as histórias) ficam em sua mente, no início causando temor profundo; depois, já adulto, você dá boas risadas. O caso da Bruxa da Sapolândia, porém, não é para se dar risada. Ela não tinha nariz adunco ou verruga no rosto e seu cabelo não era coberto por um chapéu preto. Mas, pela tragédia a qual foi acusada de ter protagonizado, com certeza ainda continuará sendo lembrada por muito tempo", frisa Fausto Brites.
Via: Correio do Estado